O crescimento das conversões ao judaísmo entre nordestinos com ascendência judaica ganhou evidência nos últimos anos. Ainda não há dados oficiais sobre a dimensão exata do movimento, mas estimativas sugerem um número significativo: o Instituto Samuel Neaman, de Israel, indica que cerca de 30 mil bnei anussim — descendentes de judeus forçados a se converter — se converteram ao judaísmo no Brasil recentemente, e até 4 milhões podem vir a se identificar como tais.
O escritor pernambucano Jacques Ribemboim, autor de estudos sobre o judaísmo no Nordeste, aponta que o potencial de nordestinos com ascendência judaica pode ser maior que a própria população de Israel, atualmente em torno de 10 milhões.
Em campos religiosos e simbólicos, casos emblemáticos ilustram essa retomada. Por exemplo, na sinagoga de Messejana (CE), um ex-frequentador que hoje é soldado em Israel retornou ao Brasil em férias, após converter-se ao judaísmo e obter cidadania israelense por meio da aliá.
Contexto histórico e cultural
A herança judaica no Nordeste remonta à época colonial. A partir do século XVII, durante a ocupação holandesa, muitos cristãos-novos fugitivos da Inquisição encontraram relativa liberdade religiosa no Recife, então sob domínio holandês — e fundaram a primeira sinagoga das Américas, Kahal Zur Israel.
Mesmo após a retomada portuguesa, elementos culturais de origem judaica permaneceram, muitas vezes misturados ao catolicismo popular: costumes ligados ao Sábado, práticas culinárias, símbolos e tradições familiares são vestígios silenciosos dessa antiga presença.
O movimento de retorno também se expressa em eventos simbólicos e comunitários: em Recife, centenas de bnei anussim participam da leitura da Meguilat Esther durante Purim na Rua dos Judeus, em frente à restaurada sinagoga Kahal Zur Israel — que, em alguns anos, coincide com o Carnaval local.
Pesquisas históricas, culturais e genéticas fundamentam esse resgate: autores como Anita Novinsky, Caesar Sobreira e Ribemboim analisam a presença judaica no Nordeste há séculos; agora, estudos genéticos ampliam essa investigação.
O Nordeste testemunha uma jornada íntima e coletiva de reconexão com a ancestralidade judaica. O processo envolve fé, história, arte, pesquisa e emoção. Para muitos, é mais que um retorno religioso: é resgatar uma parte de si — uma ponte entre passado e presente que, silenciosamente, molda novos futuros.
Charles Araújo, com informações do Correios Braziliense