O julgamento de Jorge Bezerra da Silva, de 32 anos, acusado de matar a ex-namorada com golpes de faca em janeiro de 2022, foi marcado por tensão e ameaças. O crime ocorreu na frente da filha do casal, que tinha apenas dez meses de idade na época.
Réu confesso, Jorge chegou ao Fórum Thomaz de Aquino, no Centro do Recife, por volta das 8h40 desta sexta-feira (25) e entrou visivelmente nervoso na 4ª Vara do Tribunal do Júri da Capital.
Ao ser chamado para depor, ele tentou se posicionar de costas para o juiz Abner Apolinário, que preside a sessão, com o objetivo de encarar uma das irmãs da vítima — que, segundo ele, não aceitava o relacionamento entre os dois. Durante o depoimento, o réu proferiu ameaças explícitas de morte contra a irmã de Priscila Monique Laurindo, de 28 anos, vítima do crime.
“Pode me dar 100 anos de cadeia. 100 anos. Eu não tô nem aí. Pode colocar em segurança máxima. Por mim, tanto faz. E eu vou mandar matar ***** [nome omitido]. Mandei uma vez e vou mandar de novo. Pode me dar 200 anos de cadeia”, disse Jorge, exaltado.
Diante da ameaça, o juiz reagiu com firmeza:
“Vai mandar matar a mim também?”. O réu respondeu: “Você? Você está fazendo seu trabalho. Quer me menosprezar, faça o seu trabalho, na moral”. Abner Apolinário então ordenou imediatamente: “Retira! Retire-o! Saia daqui! Coisa nenhuma, camarada. O senhor não vai mandar matar ninguém aqui. Tira essa carniça fedorenta daqui, cara!”.
Perplexo, o juiz, que tem 25 anos de carreira e é considerado um dos mais experientes do Estado, comentou em entrevista:
“Nunca vi uma situação parecida. É a primeira vez que preciso determinar que um réu seja retirado do plenário e julgado à revelia.”
Relembre o caso
Segundo familiares, o relacionamento entre Priscila e Jorge era conturbado. Após descobrir uma traição, a cabeleireira decidiu romper com ele. Um dia antes do crime, Jorge a chamou para dormir em sua casa e, sob ameaças, ela aceitou.
A mãe da vítima, a doméstica Joceane Paulino da Silva, de 53 anos, relatou que soube do assassinato após ser procurada pelo pai de Jorge, que o denunciou. Ele chegou à casa dela acompanhado por dois policiais e a levou até a residência do acusado, na Iputinga, onde já havia uma viatura do Instituto de Medicina Legal (IML).
“Eles não me disseram de imediato que minha filha estava morta. Disseram que ela estava no hospital e precisava de mim. Mas quando vi o carro do IML, meu mundo caiu”, disse Joceane. A filha do casal, de apenas dez meses, presenciou o assassinato da mãe.