Mortes, escravidão e pedofilia: o legado das missões comandadas pelo pai de antropólogo preso pelo Ibama

Detido por fiscais do Ibama no último domingo quando invadia a terra indígena Ituna-Itatá, em Altamira (PA), na área de influência da usina de Belo Monte, o antropólogo bolsonarista...
o legado das missões comandadas pelo pai de antropólogo preso pelo Ibama

Detido por fiscais do Ibama no último domingo quando invadia a terra indígena Ituna-Itatá, em Altamira (PA), na área de influência da usina de Belo Monte, o antropólogo bolsonarista Edward Mantoanelli Luz está, ao lado de seu pai, o missionário evangélico Edward Gomes Luz, no centro de diversas polêmicas que envolvem violações aos direitos dos indígenas. Com ameaças em especial para povos isolados, um dos principais focos dos planos da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), comandado pelo missionário.

Em vídeo feito pela própria equipe, o antropólogo aparece ameaçando o funcionário do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Ele cita uma reunião que teria tido com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, como argumento para permanecer no local, cujo acesso necessita de autorização formal. No local existem indígenas isolados. Segundo a rede de ONGs Observatório do Clima, a terra indígena foi a mais desmatada em dezembro e janeiro; e a segunda mais desmatada em novembro. Também existe um lobby de políticos da região e não-indígenas para impedir a homologação do território.

Depois de ser solto, Luz exortou os invasores do território indígena a resistirem. Ele foi expulso em 2003 da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) “dada a sua postura não compatível com a ética profissional”. Edward também foi desligado por unanimidade do Núcleo de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade de Brasília. Ele tem uma empresa de consultoria que faz laudos para contestar demarcações de terras, muitos deles em áreas centrais no debate feito por ruralistas no Congresso. Em um dos casos, foi contratado pelo órgão ambiental do governo catarinense para fazer um laudo contra a demarcação de terras Itaty. Ele não visitou o local para fazer seu estudo e a conclusão já estava pronta antes de chegar ao estado.

O MNTB foi expulso pela Funai de terras indígenas em 1991. O grupo era acusado de escravidão, exploração sexual e tráfico de crianças indígenas. O processo foi arquivado na Justiça. A Fundação Nacional do Índio (Funai) acusa o grupo de ser responsável por dizimar os Zoé, na região de Santarém (PA), por conta de doenças causadas pela presença de invasores, como malária e gripe. O missionário afirma que as doenças foram causadas por pessoas que chegaram à tribo após a expulsão da missão, pelas mãos da Funai. Os missionários também são acusados de explorar o trabalho braçal de ribeirinhos, de castanheiros e quilombolas.

A Funai acusa os missionários de continuar assediando os indígenas, depois da expulsão, a partir de fazendas próximas. E de inserir objetos estranhos à cultura dos indígenas dentro das tribos. Na CPI da Funai, em 2015, Edward pai expôs claramente seus métodos. “Vamos banhar a semente em sangue se for preciso. Se o Governo proíbe pregar o evangelho, está proibindo a liberdade da adoração, proíbe o autor do evangelho, o senhor Jesus. E nós partimos para o confronto”.

Objetivo do governo é converter indígenas

No atual governo, a relação é mais amena. Tanto que um missionário ligado à MNTB foi nomeado no início do mês para coordenar a área de índios isolados e de recente contato da Funai, Ricardo Lopes Dias. O MPF entrou com uma ação contra a nomeação. Alega que os requisitos mínimos foram modificados para que ele pudesse ser escolhido. E que a presença dele traz “conflito de interesses”, incompatibilidade técnica e risco de retrocesso na política indigenista. Em um áudio obtido pelo The Intercept Brasil, Edward filho admite ter feito lobby para a nomeação de Dias. O objetivo: converter os indígenas. Dias atuou entre 1997 e 2007 na MNTB.

Outro missionário ligado ao grupo, Luiz Carlos Ferreira, foi denunciado pelo Ministério Público Federal por ceder uma espingarda a um indígena da etnia Zoé. Por esse ato, ele responde também por perturbar os costumes indígenas. Em outra investigação, ele é acusado de explorar a mão-de-obra de integrantes da etnia em condição análoga à escravidão. Segundo o MPF, 96 pessoas foram exploradas em trabalho nos castanhais de uma propriedade vizinha.

Mas o caso mais impactante da atuação da MNTB junto aos indígenas brasileiros foi um escândalo internacional de pedofilia. Um missionário do grupo foi preso em maio de 2013, no aeroporto de Orlando, nos Estados Unidos, com um notebook com uma série de fotos e vídeos em que aparecia explorando sexualmente crianças indígenas. A Polícia Federal entrou no caso em setembro do mesmo ano. E, na Operação Ímpio, em parceria com autoridades daquele país, apreendeu imagens de pornografia infantil em computadores da sede da MNTB em Manaus.

Por Leonardo Fuhrmann / Publicado em De olho nos ruralistas
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