Por Charles Araújo
Thais Bonatti morreu. E não foi só uma vida que se apagou naquele asfalto quente de Araçatuba — foi também mais um pedaço da nossa fé na Justiça que escorreu junto com o sangue dela. Uma mulher de 30 anos, cheia de vida, pedalando, sendo atropelada por um juiz aposentado que estava embriagado, com uma mulher nua no colo, dentro de uma caminhonete. Sim, você leu certo. Parece piada de mau gosto, mas é tragédia — brasileira, grotesca e revoltante.
Enquanto Thais agonizava no chão, com o crânio quebrado e a pélvis em frangalhos, o meritíssimo fazia pose de cínico. Quando a polícia chegou, o cabra tava com a fala enrolada, tropeçando nas palavras e no álcool. Mas mesmo assim, como manda o script brasileiro, a caneta pesada da Justiça virou pluma: R$ 40 mil de fiança e ele voltou pra casa. Solto. Livre. Intacto.
Enquanto isso, o irmão da vítima escolhia o caixão da irmã. Isso mesmo. Um escolhia caixão, o outro vestia pijama pra dormir tranquilo. Quem é que aguenta um país onde juiz embriagado, com uma mulher nua no colo, atropela e mata, e ainda sai pela porta da frente da delegacia? Essa Justiça não tá cega. Tá pelada e vendida.
Não me venha com esse papo de “ninguém está acima da lei”. Porque está sim. Tá escrito em letras miúdas nos processos e nas entrelinhas dos privilégios: juiz, desembargador, político com foro privilegiado. No Brasil, o CPF da justiça muda conforme o sobrenome no contracheque. Se fosse um motoboy, um servente de pedreiro, um vendedor de fruta — tava preso até hoje, sem direito a habeas corpus nem visita íntima.
Mas como foi um juiz aposentado, com salário de R$ 130 mil por mês, a história muda. Virou “infeliz coincidência”, “acidente trágico”, “descontrole momentâneo”. Não foi não. Foi assassinato com volante e com arrogância. Foi mais uma mulher que morreu esmagada pela máquina não só do carro, mas do sistema.
A gente aprende a viver se esquivando da morte no trânsito, da bala perdida, da fila do SUS, da bandidagem. Mas como escapar de um juiz bêbado e tarado no volante? Como se proteger de quem deveria ser exemplo?
Não dá mais pra engolir. Tá atravessado na garganta do povo. A Justiça brasileira precisa parar de passar pano pra toga suja. Porque a gente já tá de saco cheio de ver mãe enterrando filho, irmão chorando irmã, e canalha dormindo em cama quente, blindado pela impunidade.
Thais morreu, mas a vergonha desse país continua viva — andando solta pelas ruas, bêbada, arrogante e com a Justiça sentada no colo, sem roupa e sem pudor.
E quem não se revolta com isso… já morreu por dentro.
Lamentável, mas é tudo verdade, em quem confiar?