Todo mundo vê.
Passa, olha, pisa por cima… mas finge que não é da conta dele.
As garrafas no chão, os sacos plásticos voando, as latas enferrujadas encostadas nas calçadas… tudo isso faz parte da paisagem de um bairro que nasceu pra ser novo, mas que está envelhecendo rápido com tanto descaso.
Eu me mudei pra cá com esperança. Achei que, por ser um lugar novo, as pessoas teriam um novo jeito de pensar. Que iríamos construir uma comunidade limpa, consciente, diferente. Mas não. O lixo chegou antes da consciência. Construtores que largam restos de obra, moradores que jogam sacolas pela janela, gente que passa pela rodovia e deixa seu rastro de sujeira como quem marca território.
Fui lá e limpei. Mil metros quadrados de lixo. Sozinho. Não porque gosto de catar lixo alheio, mas porque não aguentava mais ver meu bairro se transformar num depósito de descaso.
Conversei com um vizinho. Pedi que parasse. Ele sorriu, disse que sim.
Mas no fundo eu sabia: ele não vai parar. Porque ninguém para quando acha que “não é problema meu”.
Mas é. E vai ser.
Porque quando a chuva chegar — e ela sempre chega — esse lixo todo vai entupir córregos e bueiros, vai descer com a enxurrada, vai invadir casas, ruas, vidas. Vai causar alagamentos, doenças, tragédias. E aí todo mundo vai se perguntar: “como isso aconteceu?”
Aconteceu porque você jogou uma latinha no chão. Porque você achou que era só um saco plástico. Porque ninguém fez nada.
O lixo que ignoramos hoje vai ser o veneno de amanhã. Vai matar peixe, secar nascente, acabar com a saúde dos nossos filhos. Vai destruir o bairro que ainda nem teve tempo de florescer.
Será que ninguém se importa? Será que só eu vejo esse futuro tão claro, tão sujo, tão próximo?
O que me angustia não é o lixo. É a indiferença. É a normalização da sujeira.
É esse silêncio covarde diante de algo tão grave.
Preservar o meio ambiente não é uma escolha bonita. É uma urgência.
Ou a gente muda agora…
Ou vamos enterrar nossos sonhos, nossos filhos e nossas casas na lama da nossa própria irresponsabilidade.
Vai esperar o próximo desastre pra começar a cuidar?
Relato anônimo para o Filó Notícias