Era domingo, 13 de abril de 2025. Enquanto boa parte do país descansava da correria da semana, em Ceilândia, no Distrito Federal, uma família mergulhava numa dor impossível de medir. Sarah Raíssa Pereira de Castro, apenas 9 anos de idade, morreu. Não foi atropelada, não sofreu um acidente doméstico, não foi vítima de uma doença rara. Ela inalou desodorante. Isso mesmo. Seguindo um “desafio” visto no TikTok.
Sabe o que isso significa? Que a infância está sendo atropelada pela tecnologia, mas, principalmente, pela negligência. Sarah era só uma menina. Mas tinha em mãos um aparelho que dá acesso ao mundo inteiro, sem limites, sem freios, sem ninguém vigiando. E enquanto ela respirava algo tóxico pra se sentir “legal”, “influenciada” por um vídeo qualquer de rede social, os adultos estavam onde?
A Polícia Civil abriu um inquérito. Vai investigar quem postou o vídeo, quem fez o “desafio do desodorante” viralizar. Vai atrás dos culpados. Mas será que precisa ir muito longe?
Hoje em dia, virou moda colocar um celular nas mãos de uma criança como se fosse brinquedo. “Ah, ela se distrai”, “Ah, ele aprende mais rápido”. Aprende mesmo: aprende que pode tudo, que a internet é terra sem dono, que a vida vale um like.
Pais, vamos falar sério? Smartphone não é brinquedo de criança. Não é babá eletrônica. É uma bomba. Uma bomba de alto poder destrutivo que, mal usada, pode matar. E tá matando.
A médica que atendeu Sarah disse algo que deveria ser gritado nas escolas, nas igrejas, nos pontos de ônibus, nos salões de beleza, em todo lugar: “É um absurdo. Uma loucura. Uma criança saudável morrer por causa de um desafio de internet.” E é mesmo.
E não é só Sarah. Em março deste mesmo ano, Brenda Sophia, de 11 anos, morreu em Pernambuco. Mesma situação. Mesmo “desafio”. Mesmo erro.
A culpa é da internet? Do TikTok? Do algoritmo? É. Mas também é dos pais que deixam os filhos com acesso livre a tudo. É do Estado que até hoje não consegue criar regras para regular a distribuição de conteúdo nocivo à população. É de uma sociedade que acha que é normal uma criança saber usar o celular melhor que o adulto, sem ela saber o que é certo ou errado.
A Polícia vai notificar o TikTok. Vai pedir dados, tentar chegar nos responsáveis. Mas a gente pode dar uma dica: começa dentro de casa. Quem dá o celular, sem limites, sem supervisão, está sim se tornando cúmplice. E essa dor, que agora corrói uma família, pode visitar outros lares se a gente continuar tratando esse assunto com indiferença.
Não se trata de julgar os pais que perderam uma filha. Se trata de alertar os que ainda têm as suas. Que ainda podem protegê-las. Que ainda podem dizer “não”.
Porque, no fim das contas, Sarah morreu por culpa de muitos. De todos nós que assistimos tudo isso acontecer e não fizemos nada.
Charles Araújo
Direto de Santa Filomena – PE