Tem coisa acontecendo em Araripina que nada explica. A cidade virou cenário de filme de ação, com o tema tortura e tá doendo na pele de muito pai de família, agricultor, vendedor ambulante, gente de bem que batalha o pão de cada dia montado numa motinha velha, que mais parece um cavalo cansado.
A Polícia Rodoviária Federal chegou com gosto. Começou pela BR e desceu pras ruas da cidade. Blitz pra todo lado. Motos e carros sendo levados aos montes, sem dó nem piedade. O caso que mais chamou atenção foi do vendedor de lanches e seu filho, que, no desespero de ver sua ferramenta de trabalho apreendida, acabou tocando fogo numa prancha carregada de motos. Um ato extremo, eu sei. Mas num sertão sofrido, onde a lavoura já morreu em março, o desespero brota mais fácil do que a chuva cai.
A ação virou o assunto principal nos programas de rádio, nos grupos de WhatsApp, nas rodas de conversa das calçadas. Tem quem diga que é certo — afinal “lei é lei”. Mas também tem muita gente enxergando além: “será que isso tem dedo de político por trás?”
Não seria a primeira vez que o povo paga pelo orgulho ferido de figurão derrubado do poder. Araripina já conhece essa cartilha: fulano sai do cargo e se vinga sacrificando o povo. É o tal do boicote disfarçado. E, enquanto isso, quem tá na ponta da linha, que nem carteira de motorista consegue tirar por falta de condição ou de instrução, vê sua motinha sendo levada como se fosse um troféu.
É revoltante. E o mais doído é que, no meio dessa “caça às bruxas”, quem tá sendo caçado é o sertanejo — o mesmo que segura o país nos tempos de seca, que enfrenta o sol de rachar sem reclamar, que planta sabendo que talvez nem colha.
Agora me diga: será que não tá faltando sensibilidade de quem devia proteger o povo ao invés de “faltando prefeito”, como disse recentemente um político local?
Araripina não merece ser palco de retaliação política. Merece respeito. E o sertanejo, ah… esse merece mais lama preta em suas estradas, não blitz.
Acordem…
Charles Araújo – Araripe Notícias / Pop Brasil FM 93,7
Terça, 8 de abril
