A recente rejeição das contas do prefeito Raimundo Pimentel pela Câmara de Vereadores de Araripina, referente ao exercício de 2022, trouxe à tona um embate que vai além de técnicas de gestão e números fiscais. Apesar de o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) ter aprovado as contas por unanimidade e com parecer favorável do Ministério Público de Contas, dez vereadores optaram por reprovar a gestão financeira do prefeito. A situação, segundo Pimentel, é fruto de “perseguição política e revanchismo.”
Embora o prefeito tenha razão ao enfatizar a importância dos pareceres técnicos, é necessário contextualizar os fatores que levaram à atual conjuntura. Raimundo Pimentel colhe, agora, o reflexo de suas escolhas políticas ao longo de seus dois mandatos. Entre elas, destaca-se o descaso na manutenção dos salários dos professores congelados por oito anos, segundo a classe — uma decisão que não apenas gerou insatisfação entre a classe docente, mas também minou o apoio popular à sua gestão.
No campo da articulação política, a crise se aprofundou na véspera das eleições municipais de 2024. A decisão de substituir Evilásio Mateus como sucessor, além de tentar inviabilizar a candidatura do vice-prefeito por meio de manobras controversas junto à direção partidária, revelou um apetite por poder que resultou na perda de aliados históricos. Evilásio, entretanto, resgatou sua candidatura e obteve uma vitória expressiva nas urnas, com apoio popular que simbolizou um verdadeiro troco político ao então gestor.
A decisão da Câmara de Vereadores, ainda que aparentemente desvinculada de critérios técnicos, reflete um ambiente de desgaste e descontentamento. A política local, como em muitos cenários do interior brasileiro, é permeada por relações pessoais e alianças que muitas vezes se sobrepõem aos pareceres institucionais. Assim, enquanto Pimentel acusa “revanchismo”, é impossível ignorar que sua conduta política durante os dois mandatos contribuiu para a atual situação.
O caso de Raimundo Pimentel é um lembrete de que decisões tomadas durante o exercício do poder têm consequências duradouras. As alianças políticas desfeitas e as classes trabalhadoras descontentes não se calam diante de gestões que priorizam interesses pessoais ou imediatistas.
A narrativa de “perseguição política” apresentada pelo prefeito, não apaga os erros de sua gestão. No jogo político, é preciso mais do que argumentos técnicos para conquistar aliados e manter apoio. Raimundo Pimentel talvez não seja uma vítima tão inocente quanto sua nota sugere. A história recente de Araripina mostra que o povo e seus representantes também sabem dar respostas à altura de suas expectativas e decepções.